" OBSIDADE EM PORTUGAL "
Bons hábitos alimentares e obesidade infantil
EM PORTUGAL HÁ CADA VEZ MAIS CRIANÇAS OBESAS, O QUE TRAZ INÚMERAS COMPLICAÇÕES DE SAÚDE. PERCEBA COMO É GRAVE QUANDO UMA CRIANÇA COMEÇA A ENGORDAR E ACREDITE QUE ESTE PROCESSO PODE SER TRAVADO, DESDE O INÍCIO, COM A ADOPÇÃO DE UMA DIETA SAUDÁVEL E COM A PRÁTICA REGULAR DE EXERCÍCIO.
EM PORTUGAL HÁ CADA VEZ MAIS CRIANÇAS OBESAS, O QUE TRAZ INÚMERAS COMPLICAÇÕES DE SAÚDE. PERCEBA COMO É GRAVE QUANDO UMA CRIANÇA COMEÇA A ENGORDAR E ACREDITE QUE ESTE PROCESSO PODE SER TRAVADO, DESDE O INÍCIO, COM A ADOPÇÃO DE UMA DIETA SAUDÁVEL E COM A PRÁTICA REGULAR DE EXERCÍCIO.
Dr. Gonçalo Cordeiro FerreiraPediatra
A OBESIDADE NO ADOLESCENTE TEM UMA RELAÇÃO DIRECTA COM A OBESIDADE NA IDADE ADULTA (TRÊS EM CADA QUATRO ADOLESCENTES OBESOS TORNAM-SE ADULTOS OBESOS).
A obesidade na criança é definida pela presença, na composição corporal, de um excesso de gordura em relação ao tecido magro. O grau de obesidade pode ser calculado pelo Índice de Massa Corporal (IMC), que relaciona o peso com a altura, utilizando a fórmula IMC = P/A2. Na criança a composição corporal varia ao longo do tempo e também conforme o sexo. A quantidade de gordura aumenta no primeiro ano de vida, para depois diminuir, havendo de seguida um novo aumento chamado "ressalto de adiposidade" na idade pré-pubertária (mais precoce nas raparigas que nos rapazes).
Assim, é necessário relacionar o IMC com a idade e o sexo, havendo tabelas próprias. Considera-se que há excesso de peso quando o IMC está entre os percentis 85 e 95, e obesidade quando este ultrapassa o percentil 95. Em Portugal, tal como nos países desenvolvidos e mesmo em alguns países em desenvolvimento, tem-se assistido nas últimas décadas a um aumento preocupante de incidencia de obesidade nas crianças e adolescentes. Num estudo recente no nosso país, investigadores concluíram que a prevalencia do sobrepeso e obesidade é, no grupo etário dos sete aos nove anos, de 29,4% nos rapazes e 33,7% nas raparigas.
Estes números colocam-nos em competição directa com outros países mediterrânicos como a Itália (prevalencia de 36%), Grécia (31%), Espanha (30%) e bem a frente da França (18%) ou do Reino Unido (20%). A preocupação que suscita a obesidade nas crianças e jovens (considerada uma nova epidemia do século XXI) resulta de dois factores:
A obesidade na criança e, principalmente, no adolescente tem uma relação directa com a sua evolução para a obesidade na idade adulta (tres em cada quatro adolescentes obesos tornam-se adultos obesos). A obesidade no adulto resulta numa maior morbilidade (susceptibilidade a doença) e mortalidade ligada a doenças cardiovasculares, hipertensão, e diabetes tipo II, bem como na sobrecarga financeira do sistema de saúde (calcula-se que em França, na Holanda e nos EUA a obesidade acresce as contas de saúde em 2%, 4% e 6,8% respectivamente). Estudos a longo prazo demonstram que crianças e adolescentes obesos apresentam, ao fim de 40 anos, uma mortalidade por doenças cardiovasculares e digestivas superior aos não obesos. Mas, para além das ameaças a saúde futura, a obesidade pode condicionar nas crianças e jovens já algum tipo de doenças: a Diabetes tipo II, classicamente a diabetes do adulto mais idoso, mas que tem surgido mesmo em crianças de seis anos; problemas ortopédicos (nomeadamente ao nível da bacia e do fémur), apneias de sono e problemas psicológicos devido a baixa de auto-estima.
PORQUE SURGE A OBESIDADE NA CRIANÇA?
Nas crianças, como no adulto, a deposiçao de gordura do organismo, deve-se a um desequilíbrio entre as calorias que se ingerem na alimentaçao e as que se gastam no dia-a-dia, principalmente através da actividade física. Quando se ingerem mais calorias do que as que se gastam, há um aumento exagerado de peso que, a médio prazo, conduz a obesidade. O excesso do aporte resulta da oferta exagerada de alimentos muito calóricos, de alta palatibilidade e que geram pouca saciedade, como os refrigerantes, doces, chocolates, aperitivos e fast food.
Perdas e ganhos moderados de calorias representam alteraçoes significativas de peso: assume-se que 5 a 10% de aumento do aporte calórico diário pode levar a um aumento de 13% do peso em dois meses. Por outro lado, uma redução de 100 Kcal/dia pode levar a uma perda de 5 kg num ano. O consumo de fast-food aumentou 300% nas últimas duas décadas e a densidade enérgica destes alimentos é duas vezes superior as dietas tradicionais. A oferta de energia por este tipo de alimentação pode representar o acréscimo de 187 Kcal/dia. Nos EUA o consumo de snacks entre 1987 e 1999 representa um incremento de gorduras de 17 a 20% e um aumento do aporte energético total que passa de 18 a 25%.
Os refrigerantes representam também uma importantíssima fonte de calorias adicionais e tem contribuído para a epidemia da obesidade. O consumo regular destas bebidas representa um aumento diário de 188 Kcal. Nos EUA os rapazes e as raparigas entre os 12 e os 19 anos bebem um total de 360 ml/dia e 215 ml/dia, respectivamente, de refrigerantes açucarados. 32% das crianças dos dois aos cinco anos com um IMC igual ou menor a 90 consomem mais de 360 ml/dia desses refrigerantes. No outro extremo da equação encontra-se a actividade física.
O índice da actividade física (PAL) mede-se pela relação entre o gasto energético total e em repouso e classifica-se em vários graus:
Sedentário: 1 – 1,14 Activo: 1,6 – 1,9 Muito Activo: superior a 1,9 Um PAL habitual inferior a 1,75 acarreta risco de obesidade enquanto um superior a 1,8 reduz esse risco. Por esse motivo, o Eurodiet propoe um PAL superior a 1,75.
OS REFRIGERANTES REPRESENTAM UMA IMPORTANTÍSSIMA FONTE DE CALORIAS ADICIONAIS E TEM CONTRIBUÍDO PARA A EPIDEMIA DA OBESIDADE.
A diminuição da actividade física relaciona-se com os padroes sociais e comportamentais da sociedade dos nossos dias. As crianças são hoje mais sedentárias, atraídas pelo "tempo de ecra" (TV, computadores, consolas de jogos). Praticam também menos exercício físico por dificuldade em encontrar espaços adequados para esse efeito.
De facto, nas crianças o exercício físico resulta habitualmente de actividades não estruturadas (correr, jogar a bola em qualquer espaço, subir escadas) sendo esses hábitos impedidos por falta de segurança nas ruas para o desporto ao ar livre e pela utilização sistemática de elevadores para aceder a andares mais altos. Para além disso, gera-se um ciclo vicioso em que o ganho de peso excessivo vem tornar mais difícil a actividade física por cansaço mais rápido do praticante.
A televisão está também intimamente relacionada com o surto de obesidade, havendo uma correlação directa entre o Índice de Massa Corporal e o número diário de horas gastas a ver TV. A televisão está relacionada com o surto de obesidade. Este fenómeno acontece por tres motivos:
1. Baixa actividade física (PAL inferior a 1,5) enquanto a criança ve TV.
2. Consumo de alimentos (habitualmente snacks altamente calóricos ou refrigerantes) durante os períodos em que assistem a TV.
3. As mensagens publicitárias destinada ao público infantil, desajustadas e encorajando o consumo de alimentos obesogénicos.
Num estudo que efectuámos, constatou-se que nos tres canais comerciais portugueses (RTP, SIC, TVI) durante os programas infantis e juvenis de maior audiencia, 50% dos conteúdos publicitários durante a semana e 45% ao fim de semana, diziam respeito a produtos alimentares. A análise desses produtos demonstrava a sua clara desadequação em relação as práticas dietéticas recomendadas: 72% continham excesso de açúcar e 11% excesso de gordura. O seu consumo unitário representaria, nas crianças de quatro a seis anos, um aporte entre 6 e 33% das necessidades de energia diárias. Nas crianças de sete a nove anos, o aporte estaria entre 5 e 30% dessas necessidades.
GRUPOS DE RISCO E ATITUDES PREVENTIVAS
O melhor tratamento (mais barato e mais eficaz) para combater a obesidade é a prevenção. A maioria das intervençoes, quando a obesidade já está instalada, apresenta resultados claramente menos positivos.
Entre as práticas preventivas sobressai a relação positiva entre o período do aleitamento materno e o menor risco de obesidade (um bebé amamentado por um período superior a nove meses tem um risco de 0,6% de se tornar obeso contra um risco de 1% quando o aleitamento é inferior a um mes). Quais as situaçoes que colocam as crianças em risco de se tornar obesas e em que situação devemos estar particularmente atentos, encorajando o aumento do exercício físico e promovendo uma dieta restritiva em alimentos muito densos em calorias?
Em 1.o lugar, quando se detectam padroes familiares de obesidade. O risco de obesidade numa criança é maior se um dos pais for obeso e muito maior se forem ambos, devido a factores genéticos de maior eficiencia no armazenamento das calorias ingeridas. Por outro lado, a idade do aparecimento do excesso de peso é também determinante para o risco de obesidade futura: assim, quanto maior for a precocidade no ressalto da adiposidade em criança (quando começa a engordar pelos cinco ou seis anos) maior o risco de ser um adolescente obeso.
A relação entre a obesidade na adolescencia e no adulto está bem documentada. Uma criança não obesa entre os primeiros anos tem um risco de 10% de se tornar um adulto obeso. Caso os seus pais sejam obesos, esse valor varia entre os 15 e 25 %. No entanto, no grupo etário dos 15 aos 17 anos, se o adolescente não for obeso e um dos pais o for, o risco de se tornar um adulto obeso é de apenas 14%. Mas se o jovem for obeso, a probabilidade é muito superior: 54% se os pais não forem obesos, e 73% se pelo menos um deles o for.
Independentemente da obesidade dos pais, a composição corporal do adolescente é decisiva para a composição corporal do adulto em que se tornará.
CONSELHOS
A não ser em casos extremos, não se deve procurar que uma criança perca peso intensamente. Uma dieta demasiado restrita pode levar a uma diminuição de nutrientes (nomeadamente proteínas e cálcio) necessárias ao crescimento. O objectivo da redução calórica modesta (diminuir apenas 100 Kcal/dia pode levar a perda de cinco kg num ano) é que a criança cresça sem ganhos ou perdendo pouco peso, o que irá permitir a normalização do IMC. Deve ser encorajada uma dieta saudável, rica em produtos de origem vegetal (verduras, frutas, cereais) suficiente em produtos animais (peixe, carne e ovos) e lácteos (leite magro ou meio gordo, iogurtes, queijo pouco gordo). Os snacks e os produtos com açúcar adicionado (refrigerantes, bolos, doces, cereais achocolatados ou com mel, guloseimas) devem ser abolidos. Deve-se procurar que a criança coma a mesa, em família, e reduzir as visitas aos restaurantes de fast-food (ou escolhendo aqueles que já tem na oferta menus mais saudáveis como grelhados e saladas, não consumindo batatas fritas e refrigerantes). É de evitar que se empanturrem as refeiçoes incentivando-os a comer devagar, começando pela sopa e usando, se necessário, a "Regra dos 20": quando tiver vontade de repetir, esperar 20 minutos, tempo suficiente para que os alimentos passem para o intestino e comuniquem ao cérebro sinais de saciedade que levam a criança a não ter mais apetite naquela refeição Deve ser promovida a ingestão de um bom pequeno-almoço e evitar longos períodos sem comer, por levarem a uma grande voracidade na refeição seguinte. Entre as refeiçoes deve ser incentivado o consumo de alimentos pouco calóricos (peça de fruta com casca, barra de cereais integrais, bolacha integral, ou iogurte).. Nunca deve ficar esquecida a necessidade de aumentar o exercício, que deve ser do tipo "não estruturado" nas crianças pequenas como jogar a bola ou ás escondidas, andar de bicicleta, subir escadas a correr, e "estruturado" nos adolescentes como práticas desportivas, de preferencia em grupo. O "tempo de ecra" não deve ultrapassar uma hora por dia e nunca se deve permitir a TV no quarto da criança, facto que representa um acréscimo de mais 0,64 horas diárias de "tempo de TV". De facto, quando os pais poem limites no tempo de ver televisão, este reduz-se em 0,2 horas por dia, que se transformam em "tempos de leitura". Não se deve deixar as crianças comerem enquanto veem TV. O combate a obesidade e as suas consequencias graves tem que ser ganho em idades pediátricas, no seio da família – encorajando nos pais bons hábitos de vida, nomeadamente alimentares e sensibilizando-os para a prática de exercício, e na escola – através de programas de educação alimentar e da restrição, nos bares e cantinas, de alimentos pouco saudáveis.
A obesidade na criança é definida pela presença, na composição corporal, de um excesso de gordura em relação ao tecido magro. O grau de obesidade pode ser calculado pelo Índice de Massa Corporal (IMC), que relaciona o peso com a altura, utilizando a fórmula IMC = P/A2. Na criança a composição corporal varia ao longo do tempo e também conforme o sexo. A quantidade de gordura aumenta no primeiro ano de vida, para depois diminuir, havendo de seguida um novo aumento chamado "ressalto de adiposidade" na idade pré-pubertária (mais precoce nas raparigas que nos rapazes).
Assim, é necessário relacionar o IMC com a idade e o sexo, havendo tabelas próprias. Considera-se que há excesso de peso quando o IMC está entre os percentis 85 e 95, e obesidade quando este ultrapassa o percentil 95. Em Portugal, tal como nos países desenvolvidos e mesmo em alguns países em desenvolvimento, tem-se assistido nas últimas décadas a um aumento preocupante de incidencia de obesidade nas crianças e adolescentes. Num estudo recente no nosso país, investigadores concluíram que a prevalencia do sobrepeso e obesidade é, no grupo etário dos sete aos nove anos, de 29,4% nos rapazes e 33,7% nas raparigas.
Estes números colocam-nos em competição directa com outros países mediterrânicos como a Itália (prevalencia de 36%), Grécia (31%), Espanha (30%) e bem a frente da França (18%) ou do Reino Unido (20%). A preocupação que suscita a obesidade nas crianças e jovens (considerada uma nova epidemia do século XXI) resulta de dois factores:
A obesidade na criança e, principalmente, no adolescente tem uma relação directa com a sua evolução para a obesidade na idade adulta (tres em cada quatro adolescentes obesos tornam-se adultos obesos). A obesidade no adulto resulta numa maior morbilidade (susceptibilidade a doença) e mortalidade ligada a doenças cardiovasculares, hipertensão, e diabetes tipo II, bem como na sobrecarga financeira do sistema de saúde (calcula-se que em França, na Holanda e nos EUA a obesidade acresce as contas de saúde em 2%, 4% e 6,8% respectivamente). Estudos a longo prazo demonstram que crianças e adolescentes obesos apresentam, ao fim de 40 anos, uma mortalidade por doenças cardiovasculares e digestivas superior aos não obesos. Mas, para além das ameaças a saúde futura, a obesidade pode condicionar nas crianças e jovens já algum tipo de doenças: a Diabetes tipo II, classicamente a diabetes do adulto mais idoso, mas que tem surgido mesmo em crianças de seis anos; problemas ortopédicos (nomeadamente ao nível da bacia e do fémur), apneias de sono e problemas psicológicos devido a baixa de auto-estima.
PORQUE SURGE A OBESIDADE NA CRIANÇA?
Nas crianças, como no adulto, a deposiçao de gordura do organismo, deve-se a um desequilíbrio entre as calorias que se ingerem na alimentaçao e as que se gastam no dia-a-dia, principalmente através da actividade física. Quando se ingerem mais calorias do que as que se gastam, há um aumento exagerado de peso que, a médio prazo, conduz a obesidade. O excesso do aporte resulta da oferta exagerada de alimentos muito calóricos, de alta palatibilidade e que geram pouca saciedade, como os refrigerantes, doces, chocolates, aperitivos e fast food.
Perdas e ganhos moderados de calorias representam alteraçoes significativas de peso: assume-se que 5 a 10% de aumento do aporte calórico diário pode levar a um aumento de 13% do peso em dois meses. Por outro lado, uma redução de 100 Kcal/dia pode levar a uma perda de 5 kg num ano. O consumo de fast-food aumentou 300% nas últimas duas décadas e a densidade enérgica destes alimentos é duas vezes superior as dietas tradicionais. A oferta de energia por este tipo de alimentação pode representar o acréscimo de 187 Kcal/dia. Nos EUA o consumo de snacks entre 1987 e 1999 representa um incremento de gorduras de 17 a 20% e um aumento do aporte energético total que passa de 18 a 25%.
Os refrigerantes representam também uma importantíssima fonte de calorias adicionais e tem contribuído para a epidemia da obesidade. O consumo regular destas bebidas representa um aumento diário de 188 Kcal. Nos EUA os rapazes e as raparigas entre os 12 e os 19 anos bebem um total de 360 ml/dia e 215 ml/dia, respectivamente, de refrigerantes açucarados. 32% das crianças dos dois aos cinco anos com um IMC igual ou menor a 90 consomem mais de 360 ml/dia desses refrigerantes. No outro extremo da equação encontra-se a actividade física.
O índice da actividade física (PAL) mede-se pela relação entre o gasto energético total e em repouso e classifica-se em vários graus:
Sedentário: 1 – 1,14 Activo: 1,6 – 1,9 Muito Activo: superior a 1,9 Um PAL habitual inferior a 1,75 acarreta risco de obesidade enquanto um superior a 1,8 reduz esse risco. Por esse motivo, o Eurodiet propoe um PAL superior a 1,75.
OS REFRIGERANTES REPRESENTAM UMA IMPORTANTÍSSIMA FONTE DE CALORIAS ADICIONAIS E TEM CONTRIBUÍDO PARA A EPIDEMIA DA OBESIDADE.
A diminuição da actividade física relaciona-se com os padroes sociais e comportamentais da sociedade dos nossos dias. As crianças são hoje mais sedentárias, atraídas pelo "tempo de ecra" (TV, computadores, consolas de jogos). Praticam também menos exercício físico por dificuldade em encontrar espaços adequados para esse efeito.
De facto, nas crianças o exercício físico resulta habitualmente de actividades não estruturadas (correr, jogar a bola em qualquer espaço, subir escadas) sendo esses hábitos impedidos por falta de segurança nas ruas para o desporto ao ar livre e pela utilização sistemática de elevadores para aceder a andares mais altos. Para além disso, gera-se um ciclo vicioso em que o ganho de peso excessivo vem tornar mais difícil a actividade física por cansaço mais rápido do praticante.
A televisão está também intimamente relacionada com o surto de obesidade, havendo uma correlação directa entre o Índice de Massa Corporal e o número diário de horas gastas a ver TV. A televisão está relacionada com o surto de obesidade. Este fenómeno acontece por tres motivos:
1. Baixa actividade física (PAL inferior a 1,5) enquanto a criança ve TV.
2. Consumo de alimentos (habitualmente snacks altamente calóricos ou refrigerantes) durante os períodos em que assistem a TV.
3. As mensagens publicitárias destinada ao público infantil, desajustadas e encorajando o consumo de alimentos obesogénicos.
Num estudo que efectuámos, constatou-se que nos tres canais comerciais portugueses (RTP, SIC, TVI) durante os programas infantis e juvenis de maior audiencia, 50% dos conteúdos publicitários durante a semana e 45% ao fim de semana, diziam respeito a produtos alimentares. A análise desses produtos demonstrava a sua clara desadequação em relação as práticas dietéticas recomendadas: 72% continham excesso de açúcar e 11% excesso de gordura. O seu consumo unitário representaria, nas crianças de quatro a seis anos, um aporte entre 6 e 33% das necessidades de energia diárias. Nas crianças de sete a nove anos, o aporte estaria entre 5 e 30% dessas necessidades.
GRUPOS DE RISCO E ATITUDES PREVENTIVAS
O melhor tratamento (mais barato e mais eficaz) para combater a obesidade é a prevenção. A maioria das intervençoes, quando a obesidade já está instalada, apresenta resultados claramente menos positivos.
Entre as práticas preventivas sobressai a relação positiva entre o período do aleitamento materno e o menor risco de obesidade (um bebé amamentado por um período superior a nove meses tem um risco de 0,6% de se tornar obeso contra um risco de 1% quando o aleitamento é inferior a um mes). Quais as situaçoes que colocam as crianças em risco de se tornar obesas e em que situação devemos estar particularmente atentos, encorajando o aumento do exercício físico e promovendo uma dieta restritiva em alimentos muito densos em calorias?
Em 1.o lugar, quando se detectam padroes familiares de obesidade. O risco de obesidade numa criança é maior se um dos pais for obeso e muito maior se forem ambos, devido a factores genéticos de maior eficiencia no armazenamento das calorias ingeridas. Por outro lado, a idade do aparecimento do excesso de peso é também determinante para o risco de obesidade futura: assim, quanto maior for a precocidade no ressalto da adiposidade em criança (quando começa a engordar pelos cinco ou seis anos) maior o risco de ser um adolescente obeso.
A relação entre a obesidade na adolescencia e no adulto está bem documentada. Uma criança não obesa entre os primeiros anos tem um risco de 10% de se tornar um adulto obeso. Caso os seus pais sejam obesos, esse valor varia entre os 15 e 25 %. No entanto, no grupo etário dos 15 aos 17 anos, se o adolescente não for obeso e um dos pais o for, o risco de se tornar um adulto obeso é de apenas 14%. Mas se o jovem for obeso, a probabilidade é muito superior: 54% se os pais não forem obesos, e 73% se pelo menos um deles o for.
Independentemente da obesidade dos pais, a composição corporal do adolescente é decisiva para a composição corporal do adulto em que se tornará.
CONSELHOS
A não ser em casos extremos, não se deve procurar que uma criança perca peso intensamente. Uma dieta demasiado restrita pode levar a uma diminuição de nutrientes (nomeadamente proteínas e cálcio) necessárias ao crescimento. O objectivo da redução calórica modesta (diminuir apenas 100 Kcal/dia pode levar a perda de cinco kg num ano) é que a criança cresça sem ganhos ou perdendo pouco peso, o que irá permitir a normalização do IMC. Deve ser encorajada uma dieta saudável, rica em produtos de origem vegetal (verduras, frutas, cereais) suficiente em produtos animais (peixe, carne e ovos) e lácteos (leite magro ou meio gordo, iogurtes, queijo pouco gordo). Os snacks e os produtos com açúcar adicionado (refrigerantes, bolos, doces, cereais achocolatados ou com mel, guloseimas) devem ser abolidos. Deve-se procurar que a criança coma a mesa, em família, e reduzir as visitas aos restaurantes de fast-food (ou escolhendo aqueles que já tem na oferta menus mais saudáveis como grelhados e saladas, não consumindo batatas fritas e refrigerantes). É de evitar que se empanturrem as refeiçoes incentivando-os a comer devagar, começando pela sopa e usando, se necessário, a "Regra dos 20": quando tiver vontade de repetir, esperar 20 minutos, tempo suficiente para que os alimentos passem para o intestino e comuniquem ao cérebro sinais de saciedade que levam a criança a não ter mais apetite naquela refeição Deve ser promovida a ingestão de um bom pequeno-almoço e evitar longos períodos sem comer, por levarem a uma grande voracidade na refeição seguinte. Entre as refeiçoes deve ser incentivado o consumo de alimentos pouco calóricos (peça de fruta com casca, barra de cereais integrais, bolacha integral, ou iogurte).. Nunca deve ficar esquecida a necessidade de aumentar o exercício, que deve ser do tipo "não estruturado" nas crianças pequenas como jogar a bola ou ás escondidas, andar de bicicleta, subir escadas a correr, e "estruturado" nos adolescentes como práticas desportivas, de preferencia em grupo. O "tempo de ecra" não deve ultrapassar uma hora por dia e nunca se deve permitir a TV no quarto da criança, facto que representa um acréscimo de mais 0,64 horas diárias de "tempo de TV". De facto, quando os pais poem limites no tempo de ver televisão, este reduz-se em 0,2 horas por dia, que se transformam em "tempos de leitura". Não se deve deixar as crianças comerem enquanto veem TV. O combate a obesidade e as suas consequencias graves tem que ser ganho em idades pediátricas, no seio da família – encorajando nos pais bons hábitos de vida, nomeadamente alimentares e sensibilizando-os para a prática de exercício, e na escola – através de programas de educação alimentar e da restrição, nos bares e cantinas, de alimentos pouco saudáveis.
in Revista Semestral AdvanceCare - Outono de 2005